sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O DESAFIO DO RUMO E DO CAMINHO



Luiz Manfredini *


A proposta do PCdoB para o Brasil, objeto de debates no 12o Congresso
do partido, que está em curso, traz o duplo mérito de reafirmar o rumo
socialista e aprofundar o que o partido entende como o caminho a
seguir desde já. “O fortalecimento da Nação é o caminho, o socialismo
é o rumo”, proclama o Programa Socialista para o Brasil que, com
alterações eventuais, mas não essenciais, sairá da plenária final do
congresso, de cinco a oito de novembro, em São Paulo.

Tempos atrás, aqui mesmo no Vermelho, publiquei o artigo “A estratégia
na tática”, afirmando que em “momentos como o que se vive nesses
primeiros anos do século 21, de defensiva estratégica das forças
revolucionárias, em que a necessária acumulação de forças se processa
lentamente, em boa parte vinculada à própria institucionalidade da
democracia burguesa, não raro suscitam dúvidas, inseguranças,
equívocos políticos à direita e à esquerda e até mesmo a perda de
rumo”. Daí a reafirmação do socialismo como objetivo estratégico do
partido – ainda que, à primeira vista, possa parecer óbvio para uma
agremiação comunista – ser algo com o especial significado de
sustentação política e teórico-ideológica.

O que é verdadeiramente novo no programa em exame é o aprofundamento
do caminho singular para um socialismo com feição brasileira, algo
apenas insinuado no programa anterior, de 1995. O que se tem agora são
indicações mais precisas, mais minuciosas sobre os “meios políticos e
organizativos que possam levar à vitória do objetivo estratégico
delineado: conquista da república democrática popular, condutora da
transição para o socialismo”. E diz-se: “Na atualidade, o caminho para
se atingir esse objetivo maior consiste no delineamento e execução de

Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND)”. Afirmados tais
pressupostos, o Programa Socialista para o Brasil segue em
detalhamentos.

Aqui não se pretende examinar o programa em si, mas destacar a
importância dessa definição de caminhos, chamando a atenção para a
relação dialética entre rumo e caminho (ou, em outras palavras, entre
tática e estratégia). Ao afirmar o caminho (obviamente no grau de
generalidade necessário para evitar a armadilha das quimeras), o
programa confere ao rumo uma concretude mais consistente do que havia
antes. E ao reafirmar o rumo, empresta ao caminho o sentido
transformador que se pretende, ou seja, que favoreça a acumulação na
trajetória rumo ao socialismo.

Voltando ao artigo acima mencionado: “Sem uma estratégia bem definida
(e, sobretudo, compatível com a realidade sobre a qual se atua), a
tática não passa de movimento errático. Por outro lado, sem a
definição de táticas adequadas, a estratégia torna-se algo abstrato,
intenção (por melhor que seja) perdida no etéreo e, assim,
inalcançável”. O novo programa do PCdoB calibra a relação entre essas
duas categorias essenciais da luta política, segundo as circunstâncias
contemporâneas.

O tempo e o amadurecimento do processo político brasileiro cobrarão
novos aprofundamentos, tanto no caminho, quanto no rumo. O trabalho
apenas começou. Abandonado o “conforto” do modelo único, põe-se agora
o desafio – e que desafio! - de avançar numa proposta estratégica à
brasileira, diante de toda a diversidade e complexidade desse país
continental. E também de atualizar e detalhar o caminho estabelecido.

Penso que este é o maior esforço teórico que o partido terá que
enfrentar – e já enfrenta - em seus 87 anos de existência. Como
contemplar as agregações da contemporaneidade, como respeitar o
singular na construção do projeto nacional socialista – e do caminho
até ele – sem violar princípios permanentes, a natureza revolucionária
e de classe do projeto, a base teórica que o sustenta: aí está um

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