sexta-feira, 30 de julho de 2010

A campanha eleitoral na internet

Ivanovick*

A internet é uma ferramenta maravilhosa, de muitas possibilidades e que apresenta novidades a cada dia. Ela tem entre seus méritos a comunicação instantânea, a possibilidade de expressão pessoal e o acúmulo colaborativo do pensamento e do conhecimento. Por tudo isso e muito mais, a internet é campo fértil e privilegiado para a mobilização e para a luta de idéias. Por tudo isso, a internet se tornou espaço fundamental e irrecusável para as campanhas eleitorais.

Vale lembrar, que como ferramenta, a internet em si não possui valores nem ética. Por isso, as informações nela disseminadas podem servir aos mais diversos interesses. Dos mais nobres aos criminosos. Os conteúdos da rede terão maior ou menor penetração de acordo com o interesse que suscitar e a credibilidade de seus emissores ou propagadores. Cito a Gripe A (H1N1) como exemplo: conheço pessoas (várias) que não tomaram a vacina fornecida pelo governo pois leram e-mails que afirmavam que a vacina continha células cancerígenas. É claro que isso é um extremo, mas como em qualquer espaço de informação, a questão da credibilidade é fundamental. No caso da gripe, a credibilidade (duvidosa, é claro) se construiu por que alguém acreditou e repassou a mensagem.

O que isso tem a ver com a campanha na internet? Muito simples: a campanha política ganha espaço e obtém resultados favoráveis no terreno virtual na medida em que ela conquista credibilidade. E essa credibilidade só pode ser construída por pessoas. A credibilidade do candidato, do seu partido e dos seus apoiadores.

Por isso a campanha eleitoral na internet deve ser essencialmente colaborativa, praticamente no boca a boca, para que cada apoiador empreste a sua credibilidade pessoal, como amigo, parente, colega de trabalho, de estudo, de bar, etc. Pouco adianta colocar robôs para mandar milhões de e-mails pedindo voto. Ao contrário, sem os devidos cuidados, e-mails em massa podem causar antipatias, dores de cabeça e até problemas com a justiça eleitoral. Um belo site, repleto de recursos multimídia será um espaço vazio se não houver uma rede de apoiadores com inserção nas redes sociais que divulgue diretamente as propostas e as idéias dos candidatos.

Aí que está o ponto. Os candidatos e candidatas devem usar a internet, isso é praticamente irrecusável. Mas eles podem (devem) escolher se vão usar somente como um apoio à campanha em si ou se eles querem realmente usar a internet para conquistar eleitores. Se o caso for o segundo, isso exige uma abordagem e um planejamento diferenciado. Mais do que tudo, exige um time de apoiadores que já estejam presentes na internet. Gente que edite blogs, e não só sobre política; gente que tenha contas no Orkut, Facebook, Twitter, MySpace, etc; gente que tenha e-mail e o use regularmente para conversar com os amigos, que participe de grupos de debate... Enfim, gente de verdade que tenha presença efetiva na rede. Sem esse time, as candidaturas podem até fazer uma bela figura, com propostas avançadas e um belo site cheio de recursos, mas farão poucos votos na rede.

No caso da campanha presidencial, as coordenações estão mobilizadas e com os times organizados. A candidatura de Dilma Rousseff, por exemplo, conta com o exército de milhares de blogueiros voluntários espalhados pela Brasil. Esse time não será mero reprodutor de conteúdos elaborados pelos marqueteiros da campanha. Esse conteúdo é necessário, mas a natureza colaborativa da internet pede pluralidade e inteligência coletiva.

A internet também é terreno fértil para disseminações de provocações, denúncias (muitas delas vazias) e toda a sorte de baixarias entre candidatos. Um dos principais papéis do time de cada candidatura é não deixar as provocações sem resposta. Voltando ao exemplo da Gripe, os governos federal, estaduais e municipais, através do ministro e dos secretários de saúde fizeram várias declarações na imprensa para desmentir os e-mails que falavam da vacina. Uma mentira pode passar por verdade se não houver esclarecimento.

Uma idéia que pode funcionar é a criação de comitês de internet (virtuais, é claro) em que os militantes e apoiadores da candidatura possam trocar informações e conteúdos para a divulgação de seu/sua candidato/a. Isso pode funcionais em forma de lista de e-mails, sala da chat, comunidade no Orkut, página no Facebook, com apoio de Blog e Twitter.

Um/uma candidato/candidata que já tenha presença na internet, nas redes sociais, que já seja blogueiro militante ajuda bastante. Mas, se não for o caso, não adianta forçar. Uma das coisas mais detestadas na rede são os fakes (falsos, perfis enganos). Então, se for colocar algum/a assessor/a ou um profissional da comunicação para pilotar a presença do/a candidato na rede é melhor deixar isso claro, se não, a credibilidade pode ser esgotada já na saída.

Por fim, generosidade, simpatia, boas propostas e firmeza são qualidades que se prestam bem, tanto na internet como na vida.

Boa campanha!

Sugiro a leitura da entrevista de Marcelo Branco, coordenador da campanha da Dilma na internet, concedida ao jornal O Estado de S.Paulo, via blog do Altamiro Borges.
Além dessa entrevista, no Blog do Miro há outros textos muitos bons sobre o assunto.

* Ivan Souza (Ivanovick) – Formado em Letras pela UFPR, estudante de jornalismo, Assessor de comunicação, Secretário de Comunicação do PCdoB de Curitiba, membro da Comissão Política Estadual do Partido.

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