quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A MAIOR DE TODAS AS BATALHAS

Emir Sader: A maior de todas as batalhas
O maior debate contemporâneo, aquele que reaparece cotidianamente, que
praticamente cruza todos os maiores problemas que enfrentamos, é o da
solidariedade. O aspecto mais negativo do vendaval avassalador com que
o neoliberalismo tratou de se impor em nossas sociedades é o egoísmo.
Egoismo, individualismo, consumismo contra solidariedade, justiça,
direitos – esta é maior batalhar ideológica e de comportamento, no
Brasil e no mundo, atualmente.
As expressões da postura egoísta são muitas: FHC dizia que no Brasil
haveria milhões de “inimpregáveis”, isto é, de gente - segundo essa
visão – demais, que não cabem “no mercado” – que é o critério da
direita para saber quem cabe e quem não cabe. A direita espanhola usa
a frase “Não cabemos todos”, para tentar excluir aos imigrantes do
alistamento nos serviços sociais.

Se trataria de governar para uma parte da sociedade – um terço, no
máximo um pouco mais -, porque se fundam no critério do que cabe no
mercado. Não pensam a sociedade como um todo, filtram o que o mercado
torna possível, condenando o resto ao abandono.

No Brasil de hoje, um país inquestionavelmente menos injusto do que
era antes do governo Lula, se deveria contar com amplo apoio na
questão mais importante que o país enfrenta: de ser uma sociedade para
todos. Não somos um país pobre, pelos padrões internacionais, mas
somos o país mais injusto, do continente mais injusto.

Injusto, não pela miséria generalizada, mas pela distribuição de renda
super desigual, entre os pólos de riqueza e de pobreza. O tema do
“país para todos” deveria ser o critério essencial para definir a
natureza do Brasil hoje, a quantas andamos, que futuro queremos para o
país.

Porém é de temer que o critério da situação de cada um – especialmente
nos setores de classe média – seja o essencial. Enquanto a economia
crescer e atender as demandas de grande parte da população, as pessoas
se sentem contentes, apóiam o governo Lula. Não parece que a extensão
dos direitos aos até aqui sempre excluídos, os processos de
distribuição de renda, o aumento sistemático do nível de emprego
formal, entre outros aspectos inegavelmente positivos, sejam os
critérios básicos para nortear o ponto de vista político das pessoas.

Para a direita, é claro, se trata de tentar impedir que esse processo
prossiga. Seu maior fantasma é o de uma adesão duradoura do povo a
projetos de justiça social. Ela se ampara no mercado e nos seus
critérios seletivos e excludentes.

Para a esquerda, se trata de travar a maior de todas as batalhas: a
luta pela construção de idéias solidárias, de fraternidade, de
justiça, fundadas no direito de todos. Sem isso, se poderá avançar,
conforme o sucesso econômico e a possibilidade de extensão do acesso a
bens para todos. Porém, nosso critério tem que ser o da prioridade
radical de incorporação aos direitos básicos dos pobres, da grande
maioria, até aqui sempre marginalizada, do Brasil.

Ajudar a que tomem consciência dos seus direitos, de quem são seus
inimigos, de como podem e devem se organizar para garantir seus
interesses e a continuidade dos projetos que os beneficiam. Ajudar a
que sejam o sujeito fundamental na construção de um país justo,
solidário, para todos. Aí se joga o futuro do país: na superação do
egoísmo, do consumismo, dos critérios de mercado, pelos de justiça, de
solidariedade, de direito para todos.

Fonte: Blog do Emir

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