A eleição de Dilma Rousseff abre nova fase no desenvolvimento político
e da luta popular no país. Foi clara a escolha do povo brasileiro pelo
aprofundamento da democracia, o fortalecimento da soberania nacional e
a promoção da justiça social, que marcaram o período do governo Lula e
estiveram na base do programa da presidente eleita. Os brasileiros
rechaçaram o atraso, o obscurantismo, o entreguismo e as ameaças de
criminalização das lutas e organizações populares.
Por José Reinaldo Carvalho*
As forças mais reacionárias mobilizaram-se em favor do candidato
tucano, José Serra, cuja propaganda ressaltava os traços biográficos
de ex-líder estudantil e democrata. Contudo, Serra e seu entorno na
verdade se comportaram como reacionários impenitentes e, embora
tentassem toda a sorte de camuflagens, acabaram revelando-se como
representantes do imperialismo, do capital financeiro, dos grandes
monopólios e latifundiários. Suas mensagens sobre a política externa
não deixaram dúvidas quanto ao seu alinhamento. Serra prometia ser o
algoz da Bolívia e o novo ponta-de-lança do imperialismo estadunidense
para tentar desestabilizar o processo democrático-progressista na
América Latina, pondo na alça de mira a Revolução Bolivariana liderada
por Hugo Chávez.
Serra e as forças do atraso que o sustentavam recorreram a tudo. Na
25ª hora, até o papa de Roma foi mobilizado como cabo eleitoral de
quinta categoria. Não levaram em conta que um povo que eleva pouco a
pouco a sua consciência política à base da própria experiência, deixa
com o tempo de escutar as vozes das catacumbas. O que em nada
contradiz com suas convicções mais íntimas inclusive as religiosas.
A presidente eleita Dilma Rousseff fez um afirmativo discurso da
vitória em que reiterou seus compromissos com a democracia e a
construção de uma nação justa, forte e progressista. Sabe que o abismo
que nos separa desse ideal é a manutenção de graves iniqüidades
sociais resultantes do sistema político, econômico e social das
classes dominantes, o que é revelador da magnitude dos desafios.
O caminho que transformará profundamente o Brasil passa
necessariamente pelas reformas estruturais. É inadiável a reforma
política, que aprofunde e amplie a democracia, com o fortalecimento do
voto proporcional, o financiamento público das campanhas, a interdição
de financiamento empresarial, igualdade na distribuição dos tempos
para propaganda política gratuita. O país precisa da democratização da
comunicação social, que não pode continuar refém do oligopólio de umas
poucas famílias; da reforma tributária que redistribua a renda e
combata as desigualdades regionais e sociais; da universalização de
direitos – educação, saúde, habitação – e de políticas e serviços
públicos. O Brasil está maduro para galgar maiores níveis de
desenvolvimento econômico, de política industrial, de defesa dos seus
recursos naturais, de uma revolução na área da ciência e tecnologia e
no soerguimento da infra-estrutura. O progresso social exige também a
continuidade da luta pela reforma agrária e a reforma urbana.
Poucas horas depois de proclamada a vitória de Dilma Rousseff, as
forças derrotadas, através da mídia a seu serviço, começam também a
apregoar reformas: reforma fiscal, reforma previdenciária, reforma
trabalhista e reforma política com cláusula de barreira e adoção do
chamado voto distrital (eleição de deputados por voto majoritário ou
misto majoritário-proporcional). Trata-se da velha plataforma
retrógrada, conservadora, neoliberal, anti-social e antidemocrática.
No discurso da vitória, falando como estadista, a presidente eleita
estendeu a mão à oposição, sem deixar de dizer com a maior clareza que
governará com os dez partidos que marcharam com ela desde o primeiro
turno, aos quais se agregaram novos setores e lideranças no segundo.
Este é o caminho: governo de coalizão e unidade das forças
democráticas e progressistas, sem hegemonismos autoproclamados ou
pré-estabelecidos.
Serra, no pronunciamento em que reconheceu a derrota, anunciou que vai
continuar sua luta. Outros cardeais tucanos anunciaram uma “oposição
forte”.
É assim que as coisas são. O momento é propício a uma grande unidade
das forças que querem efetivamente transformar o país. Convivência
democrática e institucional entre o governo e a oposição é algo
necessário, mas isto é bem diferente de unidade tucano-petista.
Ao novo governo, sufragado pela maioria absoluta dos brasileiros,
caberá conduzir o país no sentido de concretizar os compromissos
assumidos e corresponder às aspirações do povo brasileiro. Às forças
de esquerda e ao movimento social corresponderá apoiar sem vacilações
a presidente eleita e com ela lutar pela realização e o aprofundamento
das transformações sociais.
*Secretário Nacional de Comunicação do PCdoB
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