quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jefferson Tramontini: reacendem os velhos preconceitos

A terceira vitória popular consecutiva, ocorrida na eleição presidencial, se deu ainda com mais força que nas duas anteriores. Refletiu-se na eleição de governadores, bancadas estaduais, na Câmara e no Senado, com vitórias, muitas expressivas, de candidatos vinculados ao campo progressista e de esquerda.

Por Jefferson Tramontini*, no Blog Classista

Foram muitos os paradigmas quebrados, dentre os quais o mais visível foi a eleição da primeira mulher à Presidência da república. Também muitos foram os defuntos desenterrados no espectro político brasileiro. Conservadores e reacionários de todos os matizes ressurgiram com a campanha virulenta empreendida pela candidatura das elites. A odiosa campanha eleitoral demo-tucana despertou segmentos, absolutamente minoritários, porém barulhentos, que todos pensávamos jamais voltariam a aparecer.

O acirramento da luta política, tanto no meio institucional, quanto no meio do povo, é também fruto do novo período histórico que está se abrindo aos brasileiros.

Um aspecto dessa batalha se dá agora em discussões e manifestações, especialmente via internet, mas não só, de todo tipo de preconceito e ódio. A face que mais tem aparecido trata do “racismo” empreendido por alguns segmentos da elite e das camadas médias da sociedade, especialmente de São Paulo, contra o restante do Brasil, destacadamente contra os brasileiros da região Nordeste.

O caso da estudante Mayara é apenas a ponta do iceberg. O manifesto intitulado “São Paulo para os paulistas” é mais grave, mas também não é a única, pois pode ganhar adesões e repercussões, se a chamada grande imprensa começar a inflar, sorrateiramente, o tal movimento ou iniciativas semelhantes.

A visão exposta no “manifesto” é a síntese da visão da elite brasileira que, destacadamente no caso de São Paulo, ganha contornos separatistas. Não é de hoje que essa burguesia, sediada em solo paulista, pretende-se à parte do Brasil, como se melhores fossem, como se não dependessem do restante do país para sobreviver e manter sua própria dominação.

Destilam seu veneno, agora contra os migrantes, de todos os estados, com destaque para os que chegam do nordeste brasileiro. Por trás dessa falsa apresentação de defesa da cultura paulista esconde-se, na verdade, o mais rasteiro ódio de classe. Pretendem esses endinheirados devolver os membros das classes inferiores ao único lugar que a elite os reserva, as senzalas, mais ou menos disfarçadas. O preconceito reacendido, portanto, não passa de arma terrorista de ação política.

Pregam a todo instante que o trabalho dos paulistas sustenta a vadiagem do Brasil, como se somente existissem trabalhadores em São Paulo. Se colocam como vítimas, o que nunca foram, da falta de investimentos “brasileiros” em seu estado, como se São Paulo fosse o estado mais rico da federação graças, exclusivamente, ao esforço dos paulistas, e de sua elite. Nada mais falso.

São Paulo é o estado mais rico do país graças ao Brasil e ao trabalho de todos os brasileiros, incluindo aí os paulistas, obviamente. Pretender a existência de um povo paulista exclusivo beira a absoluta falta de razão. São Paulo, como todo o país, é fruto das mais diversas influências culturais, com mais ou menos presença de uma ou de outra em determinada região. São Paulo é o principal polo industrial brasileiro graças às sucessivas políticas industriais que concentraram investimentos em um único lugar, largando à míngua imensas regiões.

Será que São Paulo seria o que é sem o aço produzido em Minas Gerais? Seria o que é sem a energia elétrica produzida no Paraná? Seria o que é sem os grãos produzidos no Centro-Oeste? Seria o que é sem a força e a capacidade do trabalho de milhões de nordestinos que para lá foram em busca das oportunidades que o Brasil concentrou em território paulista?

Apenas um exemplo de que São Paulo é fruto das riquezas de todo o Brasil trata da tributação sobre a energia elétrica. Na Constituinte de 1988, o então deputado José Serra apresentou uma emenda que, apesar de sui generis, foi aprovada. Essa lei torna diferente de todas as demais a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a energia. Ao invés de ser arrecadado na produção, onde é vendida a eletricidade, o ICMS passou a ser cobrado no consumo, onde é comprada. Assim São Paulo, maior pólo consumidor, “surrupiou”, desde 1989, aproximadamente R$32 bilhões apenas do Paraná, maior pólo produtor, em impostos. Com certeza, esses valores, fizeram falta aos paranaenses e ajudaram muito os paulistas.

Claro que os casos paulistas ganham mais repercussão, mas não são os únicos, em todo o Brasil as armas elitistas são as mesmas.

As políticas desenvolvimentistas do governo Lula, das quais Dilma é herdeira legítima, se não são perfeitas, tiveram o grande mérito de planejar o país em seu conjunto. Essas políticas têm levado desenvolvimento, com recursos, a todas as regiões do país, sem exceção. Com isso, obviamente, para eliminar as seculares desigualdades, as regiões menos desenvolvidas têm tido crescimento mais acelerado.

E são essas políticas de desenvolvimento e distribuição de renda as responsáveis pela fantástica recuperação do Brasil diante da grave crise que ainda assola os EUA e a União Europeia, em especial. São essas políticas, distribuídas em todo o território nacional, que permitem ao Brasil ter, já em 2010, um vigoroso crescimento, mantendo essa perspectiva para o próximo período.

Cabe lembrar que mesmo em São Paulo Dilma obteve mais de 10,4 milhões de votos, ou 45,95% do total, menos de 2 milhões de votos de diferença em relação a Serra. Aproximadamente a mesma proporção de votos se deu nos estados sulistas. Portanto, é falso afirmar que São Paulo ou a região Sul rejeitam a presidente eleita ou o projeto político por ela representado.

A visão “racista” que permeia o “manifesto” e outras iniciativas recentes interessa apenas a um seleto grupo de pessoas. Atende aos interesses de uma pequena elite que se pretende proprietária do Brasil, assim relegando os demais ao abandono. É a volta do povo servil o que desejam esses pretensos iluminados.

O Brasil é o que é, com as capacidades que possui, com as perspectivas que tem pela frente, graças ao seu imenso território, à sua inigualável combinação de riquezas naturais e, principalmente, à força da diversidade cultural e do trabalho do conjunto de seu povo.

Queiram ou não os velhos privilegiados, o país e o povo brasileiro continuarão seu caminho de desenvolvimento e de prosperidade iniciado com a primeira vitória do povo, que elegeu Lula em 2002, pois já não aceita o comando dos que se julgam superiores, sem sê-lo.

A luta prossegue. Os campos devem ficar cada vez mais delineados e as batalhas mais encarniçadas. A organização e a melhoria das condições de vida do povo trabalhador são cruciais para a vitória sobre os velhos barões. O novo governo Dilma começa com mais força do que a que teve seu antecessor, porém, o outro lado ainda detém muita força e, mesmo francamente minoritário, é capaz de produzir muito estardalhaço.

Os desafios são grandes, mas o perseverante povo brasileiro é acostumado a superar desafios.

* Jefferson Tramontini é membro da Coordenação Nacional dos Bancários Classistas, ligada à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)

Fonte: VERMELHO

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vermelho bate novo recorde histórico: 1,6 milhão de visitantes

No mês em que Dilma Rousseff se tornou a primeira mulher a ser eleita
presidente do Brasil, o Vermelho voltou a bater seu recorde de
audiência. Durante os 31 dias de outubro, o “portal da esquerda bem
informada” somou quase 1,6 milhão de visitantes — o número exato foi
1.598.014.

Por André Cintra
Houve um crescimento de 46,38% em relação aos 1.091.696 visitantes de
setembro — mês em que o Vermelho já havia contabilizado, até então,
sua maior audiência histórica. Os números não levam em conta os
acessos do Partido Vivo, página institucional do PCdoB e principal
parceiro do Vermelho.

De uma média de 36.390 visitantes por dia em setembro, os acessos ao
portal saltaram para 51.548 na média diária de outubro. O número de
“page view” também disparou — de 8.275.717 páginas acessadas em
setembro para pouco mais de 10,5 milhões no mês passado.

Num único dia, 3 de outubro, o Vermelho foi acessado por 100.862
internautas — índice igualmente recorde. A data, um domingo, coincidia
com as eleições para Presidência, governos estaduais, Senado, Câmara
Federal, assembleias legislativas e Câmara Distrital. Foi mais que o
triplo da audiência obtida no primeiro turno das eleições 2006 (cerca
de 35 mil).

Desde o começo de 2010, o Vermelho tem ganhado milhares de novos
visitantes a cada semana. Mas os acessos se intensificaram sobretudo a
partir de julho, com o início da campanha eleitoral. “O Vermelho
cresceu durante este ano e bateu todos os seus recordes históricos
porque viveu, em toda a sua plenitude, o embate político-eleitoral da
sociedade brasileira”, analisa José Reinaldo Carvalho, secretário de
Comunicação do PCdoB e editor do Vermelho.

Segundo ele, um dos méritos do portal foi não ter desvirtuado sua
linha editorial, nem enganado os internautas. “Ao cobrir as eleições,
o Vermelho tomou partido, escolheu o lado certo e tornou-se um veículo
de comunicação militante, ativo, propositivo, polêmico e mobilizador.
Crescemos porque soubemos corresponder às expectativas do nosso
público. Somos profundamente gratos a este e aos nossos colaboradores
— sem os quais tal êxito não teria sido possível.”

Fonte: Vermelho

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vitória contundente para avançar nas mudanças

A eleição de Dilma Rousseff abre nova fase no desenvolvimento político
e da luta popular no país. Foi clara a escolha do povo brasileiro pelo
aprofundamento da democracia, o fortalecimento da soberania nacional e
a promoção da justiça social, que marcaram o período do governo Lula e
estiveram na base do programa da presidente eleita. Os brasileiros
rechaçaram o atraso, o obscurantismo, o entreguismo e as ameaças de
criminalização das lutas e organizações populares.

Por José Reinaldo Carvalho*


As forças mais reacionárias mobilizaram-se em favor do candidato
tucano, José Serra, cuja propaganda ressaltava os traços biográficos
de ex-líder estudantil e democrata. Contudo, Serra e seu entorno na
verdade se comportaram como reacionários impenitentes e, embora
tentassem toda a sorte de camuflagens, acabaram revelando-se como
representantes do imperialismo, do capital financeiro, dos grandes
monopólios e latifundiários. Suas mensagens sobre a política externa
não deixaram dúvidas quanto ao seu alinhamento. Serra prometia ser o
algoz da Bolívia e o novo ponta-de-lança do imperialismo estadunidense
para tentar desestabilizar o processo democrático-progressista na
América Latina, pondo na alça de mira a Revolução Bolivariana liderada
por Hugo Chávez.

Serra e as forças do atraso que o sustentavam recorreram a tudo. Na
25ª hora, até o papa de Roma foi mobilizado como cabo eleitoral de
quinta categoria. Não levaram em conta que um povo que eleva pouco a
pouco a sua consciência política à base da própria experiência, deixa
com o tempo de escutar as vozes das catacumbas. O que em nada
contradiz com suas convicções mais íntimas inclusive as religiosas.

A presidente eleita Dilma Rousseff fez um afirmativo discurso da
vitória em que reiterou seus compromissos com a democracia e a
construção de uma nação justa, forte e progressista. Sabe que o abismo
que nos separa desse ideal é a manutenção de graves iniqüidades
sociais resultantes do sistema político, econômico e social das
classes dominantes, o que é revelador da magnitude dos desafios.

O caminho que transformará profundamente o Brasil passa
necessariamente pelas reformas estruturais. É inadiável a reforma
política, que aprofunde e amplie a democracia, com o fortalecimento do
voto proporcional, o financiamento público das campanhas, a interdição
de financiamento empresarial, igualdade na distribuição dos tempos
para propaganda política gratuita. O país precisa da democratização da
comunicação social, que não pode continuar refém do oligopólio de umas
poucas famílias; da reforma tributária que redistribua a renda e
combata as desigualdades regionais e sociais; da universalização de
direitos – educação, saúde, habitação – e de políticas e serviços
públicos. O Brasil está maduro para galgar maiores níveis de
desenvolvimento econômico, de política industrial, de defesa dos seus
recursos naturais, de uma revolução na área da ciência e tecnologia e
no soerguimento da infra-estrutura. O progresso social exige também a
continuidade da luta pela reforma agrária e a reforma urbana.

Poucas horas depois de proclamada a vitória de Dilma Rousseff, as
forças derrotadas, através da mídia a seu serviço, começam também a
apregoar reformas: reforma fiscal, reforma previdenciária, reforma
trabalhista e reforma política com cláusula de barreira e adoção do
chamado voto distrital (eleição de deputados por voto majoritário ou
misto majoritário-proporcional). Trata-se da velha plataforma
retrógrada, conservadora, neoliberal, anti-social e antidemocrática.
No discurso da vitória, falando como estadista, a presidente eleita
estendeu a mão à oposição, sem deixar de dizer com a maior clareza que
governará com os dez partidos que marcharam com ela desde o primeiro
turno, aos quais se agregaram novos setores e lideranças no segundo.
Este é o caminho: governo de coalizão e unidade das forças
democráticas e progressistas, sem hegemonismos autoproclamados ou
pré-estabelecidos.

Serra, no pronunciamento em que reconheceu a derrota, anunciou que vai
continuar sua luta. Outros cardeais tucanos anunciaram uma “oposição
forte”.

É assim que as coisas são. O momento é propício a uma grande unidade
das forças que querem efetivamente transformar o país. Convivência
democrática e institucional entre o governo e a oposição é algo
necessário, mas isto é bem diferente de unidade tucano-petista.

Ao novo governo, sufragado pela maioria absoluta dos brasileiros,
caberá conduzir o país no sentido de concretizar os compromissos
assumidos e corresponder às aspirações do povo brasileiro. Às forças
de esquerda e ao movimento social corresponderá apoiar sem vacilações
a presidente eleita e com ela lutar pela realização e o aprofundamento
das transformações sociais.

*Secretário Nacional de Comunicação do PCdoB