terça-feira, 3 de maio de 2011

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Vamos com calma

Abaixo reproduzimos opinião do ator Wagner Moura sobre a ocupação das comunidades do Cruzeiro e Alemão, no Rio de Janeiro:

Estamos todos muito contentes com o fato das comunidades do Cruzeiro e do Alemão estarem (pelo menos provisoriamente) livres do julgo do tráfico? Estamos felizes por ninguém ter morrido na invasão do Alemão? Claro, ou não são também os moradores dessas regiões, cariocas, brasileiros que têm direito de ir e vir? Estou feliz pelo Rio, pelo Brasil, por nós todos, mas principalmente, estou feliz por quem mora na Penha. No entanto preciso dizer: vamos com calma. A cobertura que grandes veículos de comunicação têm dado às operações policiais é de um triunfalismo perigoso que pode induzir a uma solução simplista (diga-se de passagem, muito mais sóbrias têm sido as declarações do Secretário de Segurança e do Governador do Rio). A população da Zona Sul carioca (como microcosmo de nossa classe média-alta brasileira) embalada com a cobertura televisiva, em geral, se divide entre a excitação com "o dia D" redentor e a frustração por não ter visto aqueles traficantes em fuga serem alvejados por um atirador num helicóptero.

As comunidades livres dos traficantes? É possível. Está havendo uma mudança de paradigmas quando se fala em tráfico de drogas, talvez o modelo do jovem de periferia armado vendendo pó esteja mesmo acabando. O Estado agora não pode sair das favelas reconquistadas, sob pena de repetição do esquema polícia-invade-muita-gente-morre-polícia-sai-o-tráfico-volta-e-toca-o-terror-na-comunidade, mas também não pode se manter lá só com a força policial, ou a mesma pode estabelecer uma relação de dominação semelhante à do tráfico ou das milícias com os moradores. O Estado precisa se fazer presente por inteiro. As UPPs são um ótimo primeiro passo, embora a polícia não tenha efetivo para se instalar agora nem na Penha nem em outras centenas de favelas cariocas dominadas por poderes paralelos. Na Vila Cruzeiro e no Alemão, o jeito vai ser deixar o Exército tomando conta por sete meses enquanto esses policiais da futura UPP são contratados e treinados. De tudo, o melhor foi ouvir que a prefeitura do Rio tem um plano de urbanização e políticas sociais e culturais para as favelas invadidas. Torço para que os agentes desse plano já façam companhia às Forças Armadas nesses sete meses, deixando alguns soldados livres para auxiliar no patrulhamento de fronteiras, impedindo que trezentos fuzis entrem no Complexo do Alemão.

Acabar com o tráfico? Aí é mais complexo. A única coisa que pode acabar mesmo com o tráfico é a legalização das drogas. Uma equação simples: enquanto houver consumo ilegal, haverá tráfico. De qualquer forma, a conquista de territórios perdidos e consequentemente das liberdades civis de seus moradores (conquistas que não combinam com abusos da polícia, que segundo alguns, participam de uma caça aos tesouros deixados por traficantes que fugiram pelo esgoto do PAC), é um grande avanço e merece aplausos, faz a gente pensar por que demorou tanto (Copa, Olimpíadas, não importa, antes tarde do que nunca). Me chamou atenção uma entrevista do chefe da polícia civil dizendo algo do tipo: "os bandidos da Rocinha que não se metam com a Zona Sul, senão vai sobrar para eles". Os ataques dos bandidos à Zona Sul do Rio certamente precipitaram a reação do Governo, mas o domínio de uma parcela da cidade por um poder que não o instituído já não é motivo suficiente para uma ação como a da semana passada?

Enfim, a retomada da Vila Cruzeiro e do Alemão pelo Governo é exemplar e importante especialmente para devolver direitos civis aos moradores das respectivas comunidades e as UPPs são um grande projeto, pois é o Estado finalmente se fazendo presente em bolsões de pobreza historicamente negligenciados por políticos.

Mas vamos com calma. É fundamental que haja uma reforma profunda na polícia; os policiais ganham muito mal (vale pensar sobre a PEC 300), são muito mal treinados, trabalham em péssimas condições e têm na corrupção uma cultura instituída. É urgente fortalecer as corregedorias e combater a corrupção policial! É preciso que as polícias ajam com a inteligência que demonstraram nas invasões; coordenadas. É fundamental que haja um patrulhamento nas fronteiras e rodovias e que se combata o tráfico de armas, que haja reforma do código penal para que o bandido perigoso não saia logo e para que o ladrão de galinha apenas preste serviços comunitários e é importante que se construam presídios de segurança máxima que impeçam um bandido de comandar seus negócios da cadeia. Tenho certeza que isso vai evitar muito sangue derramado na pura e simples política de confronto. Mas, mais do que tudo: a questão da segurança pública passa necessariamente pela questão social e isso não é esquerdismo naif. As comunidades pobres precisam deixar de ser tratadas como um caso de polícia. Precisam de hospitais, saneamento básico, emprego, esporte, lazer e principalmente educação e cultura. Assim como é melhor não deixar o fuzil entrar do que trocar tiro com ele, é melhor cuidar para que o jovem de periferia tenha alternativas antes que ele se transforme num daqueles cem caras fugindo que a gente viu na tv.


Wagner Moura é ator. Artigo publicado originalmente na página do deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ)

É de outros mundos que carecemos!

Abaixo, trechos de matéria publicada na última edição do jornal Brasil de Fato retrata os desafios ligados a Meio Ambiente e Desenvolvimento, título original para ser lido na íntegra aqui.

Enfim, é preciso descolonizar o pensamento e pararmos de querer ser de 1º mundo. É de outros mundos que carecemos!

Hoje sabemos, conforme nos informa a ONU, que os 20% mais ricos do planeta consomem 84% da matéria e energia transformada anualmente e que os 80% mais pobres só são responsáveis pelo consumo de 16%! Assim, vai por terra o mito malthusiano de que é o crescimento demográfico que estaria colocando o planeta em risco, haja vista ser a pegada ecológica dos ricos o maior problema. E a questão se complexifica ainda mais quando observamos que temos mais ricos e classes médias com esse padrão de consumo ditado pelo 1º mundo no 3º mundo do que no 1º mundo.

È o que podemos constatar com as informações insuspeitas do cientista social egípcio Samir Amim que nos informa que, considerando o universo somente da população urbana do mundo, temos 330 milhões vivendo como Classes Médias e Ricas nos países do centro e 390 milhões como Classes Médias e Ricas nos países da periferia! Enfim, temos mais ricos e classes médias na população urbana nos países da periferia do que nos países do centro! Hoje sabemos que 53% da população mundial é urbana e que 70% dos urbanos do mundo estão no 3º mundo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jefferson Tramontini: reacendem os velhos preconceitos

A terceira vitória popular consecutiva, ocorrida na eleição presidencial, se deu ainda com mais força que nas duas anteriores. Refletiu-se na eleição de governadores, bancadas estaduais, na Câmara e no Senado, com vitórias, muitas expressivas, de candidatos vinculados ao campo progressista e de esquerda.

Por Jefferson Tramontini*, no Blog Classista

Foram muitos os paradigmas quebrados, dentre os quais o mais visível foi a eleição da primeira mulher à Presidência da república. Também muitos foram os defuntos desenterrados no espectro político brasileiro. Conservadores e reacionários de todos os matizes ressurgiram com a campanha virulenta empreendida pela candidatura das elites. A odiosa campanha eleitoral demo-tucana despertou segmentos, absolutamente minoritários, porém barulhentos, que todos pensávamos jamais voltariam a aparecer.

O acirramento da luta política, tanto no meio institucional, quanto no meio do povo, é também fruto do novo período histórico que está se abrindo aos brasileiros.

Um aspecto dessa batalha se dá agora em discussões e manifestações, especialmente via internet, mas não só, de todo tipo de preconceito e ódio. A face que mais tem aparecido trata do “racismo” empreendido por alguns segmentos da elite e das camadas médias da sociedade, especialmente de São Paulo, contra o restante do Brasil, destacadamente contra os brasileiros da região Nordeste.

O caso da estudante Mayara é apenas a ponta do iceberg. O manifesto intitulado “São Paulo para os paulistas” é mais grave, mas também não é a única, pois pode ganhar adesões e repercussões, se a chamada grande imprensa começar a inflar, sorrateiramente, o tal movimento ou iniciativas semelhantes.

A visão exposta no “manifesto” é a síntese da visão da elite brasileira que, destacadamente no caso de São Paulo, ganha contornos separatistas. Não é de hoje que essa burguesia, sediada em solo paulista, pretende-se à parte do Brasil, como se melhores fossem, como se não dependessem do restante do país para sobreviver e manter sua própria dominação.

Destilam seu veneno, agora contra os migrantes, de todos os estados, com destaque para os que chegam do nordeste brasileiro. Por trás dessa falsa apresentação de defesa da cultura paulista esconde-se, na verdade, o mais rasteiro ódio de classe. Pretendem esses endinheirados devolver os membros das classes inferiores ao único lugar que a elite os reserva, as senzalas, mais ou menos disfarçadas. O preconceito reacendido, portanto, não passa de arma terrorista de ação política.

Pregam a todo instante que o trabalho dos paulistas sustenta a vadiagem do Brasil, como se somente existissem trabalhadores em São Paulo. Se colocam como vítimas, o que nunca foram, da falta de investimentos “brasileiros” em seu estado, como se São Paulo fosse o estado mais rico da federação graças, exclusivamente, ao esforço dos paulistas, e de sua elite. Nada mais falso.

São Paulo é o estado mais rico do país graças ao Brasil e ao trabalho de todos os brasileiros, incluindo aí os paulistas, obviamente. Pretender a existência de um povo paulista exclusivo beira a absoluta falta de razão. São Paulo, como todo o país, é fruto das mais diversas influências culturais, com mais ou menos presença de uma ou de outra em determinada região. São Paulo é o principal polo industrial brasileiro graças às sucessivas políticas industriais que concentraram investimentos em um único lugar, largando à míngua imensas regiões.

Será que São Paulo seria o que é sem o aço produzido em Minas Gerais? Seria o que é sem a energia elétrica produzida no Paraná? Seria o que é sem os grãos produzidos no Centro-Oeste? Seria o que é sem a força e a capacidade do trabalho de milhões de nordestinos que para lá foram em busca das oportunidades que o Brasil concentrou em território paulista?

Apenas um exemplo de que São Paulo é fruto das riquezas de todo o Brasil trata da tributação sobre a energia elétrica. Na Constituinte de 1988, o então deputado José Serra apresentou uma emenda que, apesar de sui generis, foi aprovada. Essa lei torna diferente de todas as demais a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a energia. Ao invés de ser arrecadado na produção, onde é vendida a eletricidade, o ICMS passou a ser cobrado no consumo, onde é comprada. Assim São Paulo, maior pólo consumidor, “surrupiou”, desde 1989, aproximadamente R$32 bilhões apenas do Paraná, maior pólo produtor, em impostos. Com certeza, esses valores, fizeram falta aos paranaenses e ajudaram muito os paulistas.

Claro que os casos paulistas ganham mais repercussão, mas não são os únicos, em todo o Brasil as armas elitistas são as mesmas.

As políticas desenvolvimentistas do governo Lula, das quais Dilma é herdeira legítima, se não são perfeitas, tiveram o grande mérito de planejar o país em seu conjunto. Essas políticas têm levado desenvolvimento, com recursos, a todas as regiões do país, sem exceção. Com isso, obviamente, para eliminar as seculares desigualdades, as regiões menos desenvolvidas têm tido crescimento mais acelerado.

E são essas políticas de desenvolvimento e distribuição de renda as responsáveis pela fantástica recuperação do Brasil diante da grave crise que ainda assola os EUA e a União Europeia, em especial. São essas políticas, distribuídas em todo o território nacional, que permitem ao Brasil ter, já em 2010, um vigoroso crescimento, mantendo essa perspectiva para o próximo período.

Cabe lembrar que mesmo em São Paulo Dilma obteve mais de 10,4 milhões de votos, ou 45,95% do total, menos de 2 milhões de votos de diferença em relação a Serra. Aproximadamente a mesma proporção de votos se deu nos estados sulistas. Portanto, é falso afirmar que São Paulo ou a região Sul rejeitam a presidente eleita ou o projeto político por ela representado.

A visão “racista” que permeia o “manifesto” e outras iniciativas recentes interessa apenas a um seleto grupo de pessoas. Atende aos interesses de uma pequena elite que se pretende proprietária do Brasil, assim relegando os demais ao abandono. É a volta do povo servil o que desejam esses pretensos iluminados.

O Brasil é o que é, com as capacidades que possui, com as perspectivas que tem pela frente, graças ao seu imenso território, à sua inigualável combinação de riquezas naturais e, principalmente, à força da diversidade cultural e do trabalho do conjunto de seu povo.

Queiram ou não os velhos privilegiados, o país e o povo brasileiro continuarão seu caminho de desenvolvimento e de prosperidade iniciado com a primeira vitória do povo, que elegeu Lula em 2002, pois já não aceita o comando dos que se julgam superiores, sem sê-lo.

A luta prossegue. Os campos devem ficar cada vez mais delineados e as batalhas mais encarniçadas. A organização e a melhoria das condições de vida do povo trabalhador são cruciais para a vitória sobre os velhos barões. O novo governo Dilma começa com mais força do que a que teve seu antecessor, porém, o outro lado ainda detém muita força e, mesmo francamente minoritário, é capaz de produzir muito estardalhaço.

Os desafios são grandes, mas o perseverante povo brasileiro é acostumado a superar desafios.

* Jefferson Tramontini é membro da Coordenação Nacional dos Bancários Classistas, ligada à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)

Fonte: VERMELHO

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vermelho bate novo recorde histórico: 1,6 milhão de visitantes

No mês em que Dilma Rousseff se tornou a primeira mulher a ser eleita
presidente do Brasil, o Vermelho voltou a bater seu recorde de
audiência. Durante os 31 dias de outubro, o “portal da esquerda bem
informada” somou quase 1,6 milhão de visitantes — o número exato foi
1.598.014.

Por André Cintra
Houve um crescimento de 46,38% em relação aos 1.091.696 visitantes de
setembro — mês em que o Vermelho já havia contabilizado, até então,
sua maior audiência histórica. Os números não levam em conta os
acessos do Partido Vivo, página institucional do PCdoB e principal
parceiro do Vermelho.

De uma média de 36.390 visitantes por dia em setembro, os acessos ao
portal saltaram para 51.548 na média diária de outubro. O número de
“page view” também disparou — de 8.275.717 páginas acessadas em
setembro para pouco mais de 10,5 milhões no mês passado.

Num único dia, 3 de outubro, o Vermelho foi acessado por 100.862
internautas — índice igualmente recorde. A data, um domingo, coincidia
com as eleições para Presidência, governos estaduais, Senado, Câmara
Federal, assembleias legislativas e Câmara Distrital. Foi mais que o
triplo da audiência obtida no primeiro turno das eleições 2006 (cerca
de 35 mil).

Desde o começo de 2010, o Vermelho tem ganhado milhares de novos
visitantes a cada semana. Mas os acessos se intensificaram sobretudo a
partir de julho, com o início da campanha eleitoral. “O Vermelho
cresceu durante este ano e bateu todos os seus recordes históricos
porque viveu, em toda a sua plenitude, o embate político-eleitoral da
sociedade brasileira”, analisa José Reinaldo Carvalho, secretário de
Comunicação do PCdoB e editor do Vermelho.

Segundo ele, um dos méritos do portal foi não ter desvirtuado sua
linha editorial, nem enganado os internautas. “Ao cobrir as eleições,
o Vermelho tomou partido, escolheu o lado certo e tornou-se um veículo
de comunicação militante, ativo, propositivo, polêmico e mobilizador.
Crescemos porque soubemos corresponder às expectativas do nosso
público. Somos profundamente gratos a este e aos nossos colaboradores
— sem os quais tal êxito não teria sido possível.”

Fonte: Vermelho

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vitória contundente para avançar nas mudanças

A eleição de Dilma Rousseff abre nova fase no desenvolvimento político
e da luta popular no país. Foi clara a escolha do povo brasileiro pelo
aprofundamento da democracia, o fortalecimento da soberania nacional e
a promoção da justiça social, que marcaram o período do governo Lula e
estiveram na base do programa da presidente eleita. Os brasileiros
rechaçaram o atraso, o obscurantismo, o entreguismo e as ameaças de
criminalização das lutas e organizações populares.

Por José Reinaldo Carvalho*


As forças mais reacionárias mobilizaram-se em favor do candidato
tucano, José Serra, cuja propaganda ressaltava os traços biográficos
de ex-líder estudantil e democrata. Contudo, Serra e seu entorno na
verdade se comportaram como reacionários impenitentes e, embora
tentassem toda a sorte de camuflagens, acabaram revelando-se como
representantes do imperialismo, do capital financeiro, dos grandes
monopólios e latifundiários. Suas mensagens sobre a política externa
não deixaram dúvidas quanto ao seu alinhamento. Serra prometia ser o
algoz da Bolívia e o novo ponta-de-lança do imperialismo estadunidense
para tentar desestabilizar o processo democrático-progressista na
América Latina, pondo na alça de mira a Revolução Bolivariana liderada
por Hugo Chávez.

Serra e as forças do atraso que o sustentavam recorreram a tudo. Na
25ª hora, até o papa de Roma foi mobilizado como cabo eleitoral de
quinta categoria. Não levaram em conta que um povo que eleva pouco a
pouco a sua consciência política à base da própria experiência, deixa
com o tempo de escutar as vozes das catacumbas. O que em nada
contradiz com suas convicções mais íntimas inclusive as religiosas.

A presidente eleita Dilma Rousseff fez um afirmativo discurso da
vitória em que reiterou seus compromissos com a democracia e a
construção de uma nação justa, forte e progressista. Sabe que o abismo
que nos separa desse ideal é a manutenção de graves iniqüidades
sociais resultantes do sistema político, econômico e social das
classes dominantes, o que é revelador da magnitude dos desafios.

O caminho que transformará profundamente o Brasil passa
necessariamente pelas reformas estruturais. É inadiável a reforma
política, que aprofunde e amplie a democracia, com o fortalecimento do
voto proporcional, o financiamento público das campanhas, a interdição
de financiamento empresarial, igualdade na distribuição dos tempos
para propaganda política gratuita. O país precisa da democratização da
comunicação social, que não pode continuar refém do oligopólio de umas
poucas famílias; da reforma tributária que redistribua a renda e
combata as desigualdades regionais e sociais; da universalização de
direitos – educação, saúde, habitação – e de políticas e serviços
públicos. O Brasil está maduro para galgar maiores níveis de
desenvolvimento econômico, de política industrial, de defesa dos seus
recursos naturais, de uma revolução na área da ciência e tecnologia e
no soerguimento da infra-estrutura. O progresso social exige também a
continuidade da luta pela reforma agrária e a reforma urbana.

Poucas horas depois de proclamada a vitória de Dilma Rousseff, as
forças derrotadas, através da mídia a seu serviço, começam também a
apregoar reformas: reforma fiscal, reforma previdenciária, reforma
trabalhista e reforma política com cláusula de barreira e adoção do
chamado voto distrital (eleição de deputados por voto majoritário ou
misto majoritário-proporcional). Trata-se da velha plataforma
retrógrada, conservadora, neoliberal, anti-social e antidemocrática.
No discurso da vitória, falando como estadista, a presidente eleita
estendeu a mão à oposição, sem deixar de dizer com a maior clareza que
governará com os dez partidos que marcharam com ela desde o primeiro
turno, aos quais se agregaram novos setores e lideranças no segundo.
Este é o caminho: governo de coalizão e unidade das forças
democráticas e progressistas, sem hegemonismos autoproclamados ou
pré-estabelecidos.

Serra, no pronunciamento em que reconheceu a derrota, anunciou que vai
continuar sua luta. Outros cardeais tucanos anunciaram uma “oposição
forte”.

É assim que as coisas são. O momento é propício a uma grande unidade
das forças que querem efetivamente transformar o país. Convivência
democrática e institucional entre o governo e a oposição é algo
necessário, mas isto é bem diferente de unidade tucano-petista.

Ao novo governo, sufragado pela maioria absoluta dos brasileiros,
caberá conduzir o país no sentido de concretizar os compromissos
assumidos e corresponder às aspirações do povo brasileiro. Às forças
de esquerda e ao movimento social corresponderá apoiar sem vacilações
a presidente eleita e com ela lutar pela realização e o aprofundamento
das transformações sociais.

*Secretário Nacional de Comunicação do PCdoB

domingo, 31 de outubro de 2010

Da base à faixa! DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DO BRASIL!


Com 92,23% dos votos apurados, a candidata da coligação Para o Brasil Continuar Mudando obteve 55,39 dos votos válidos contra 44% de José Serra e foi declarada eleita pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski, por volta das 20h30. A abstenção atingiu 21,18%. O recado das urnas foi claro. O povo votou para consolidar e impulsionar o processo de mudanças iniciado em 2002 com a eleição de Lula.

Às 22 horas, com 99,45% dos votos apurados, a Dilma tinha 55,46% contra 43, 57% do candidato tucano.

O grande vitorioso do pleito é o povo brasileiro, que rejeita o retrocesso neoliberal e aposta na continuidade e no aprofundamento do processo de mudança iniciado pelos governos Lula; abomina as privatizações e votou para que os lucros do petróleo do pré-sal sejam apropriados pela nação e não pelas transnacionais .

Ganharam os partidos de esquerda e de centro que integram a coligação Para o Brasil Continuar Mudando. Ganharam os movimentos sociais (as centrais sindicais, a UNE, o MST), ameaçados de criminalização pela direita demo-tucana. Ganharam os democratas e patriotas, que rejeitam o obscurantismo e defendem uma política externa altiva e soberana. Ganharam as mulheres, que pela primeira vez na história do Brasil terão uma representante na Presidência da República, numa vitória da luta secular pela igualdade.

Quem foi derrotado nesta eleição

A direita demo-tucana. O caráter direitista da coligação demo-tucana encabeçada por José Serra ficou patente no decorrer da campanha presidencial. Serra foi apoiado e assessorado pela TFP, organização de notória inspiração fascista; apelou ao discurso golpista contra a “república sindicalista” (usado pelos militares em 1964); estimulou a intolerância e o obscurantismo reacionário de setores religiosos, contra o aborto e o casamento homossexual; acenou com a privatização do pré-sal, a “flexibilização” (ou o fim) do Mercosul e o retorno da diplomacia do pés descalços, em troca do apoio das potências imperialistas.

A mídia golpista. Os meios de comunicação monopolizados por um minúsculo grupo de famílias capitalistas (Marinho, Civita, Frias e Mesquita) estão entre os grandes derrotados deste pleito. Com o destaque das Organizações Globo e da editora Abril, que transformou a revista Veja num mal disfarçado panfleto da campanha tucana, a mídia escancarou o apoio ao candidato da direita e em certo momento passou a ditar a agenda da campanha. Deixou cair a máscara do pluralismo e da imparcialidade. A verdade saiu arranhada nesta mídia. Apesar do segundo turno, o povo não se deixou enganar e impôs nova derrota à mídia, a terceira desde 2002. Tudo isto deve servir de lição ao novo governo, que pode pautar um debate mais sério e sereno sobre as propostas da Primeira Conferência Nacional da Comunicação (Confecon).

O papa e setores reacionários da Igreja. Em outra prova de sua guinada à direita, José Serra se aliou aos setores mais reacionários e obscurantistas das igrejas, mobilizando padres, pastores e bispos para uma suja campanha contra Dilma, explorando de forma demagógica temas delicados como o aborto e a união civil de homossexuais. Até o papa entrou na baixaria, pregando contra “a candidata do aborto” na reta final do pleito. O Estado é laico, como afirmou Lula. O obscurantismo religioso não vingou, foi derrotado.

As transnacionais e o imperialismo. Na reta final da campanha, a revistaThe Economist e o jornal Financial Times, que tinham mantido prudente distância do pleito no primeiro turno, com a ressureição da possibilidade de vitória no segundo turno resolveram abrir o jogo e declarar apoio a Serra. Os dois veículos, porta-vozes do imperialismo anglo-americano, refletiram a opção e torcida do capital estrangeiro, esperançosos com as sinalizações de que o programa de privatizações seria retomado pelo tucano, que na reta final da campanha admitiu a privatização do pré-sal denunciada por Dilma Rousseff. Foram derrotados.

Fonte: VERMELHO